quarta-feira, 14 de março de 2012

Opiniões...

UM NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO
João Malaca Casteleiro
Professor catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa
Linguista

A questão ortográfica da língua portuguesa arrasta -se há quase meio século. De facto, em 1911, com o advento da República, Portugal promoveu uma grande reforma ortográfica da língua. Infelizmente, fê-lo à revelia do Brasil, que era então o outro grande país de língua portuguesa. Ora, implantar uma reforma ortográfica constitui um acto de soberania, o qual não pode ser imposto a outro país. Mas era o que Portugal pretendia, ou seja, que o Brasil adoptasse a ortografia portuguesa de 1911, o que não aconteceu. O pecado original dessa "guerra" ortográfica reside no facto de aquela reforma não ter sido previamente acordada com o Brasil, como o exigia a defesa e promoção da língua portuguesa no mundo.
Houve depois várias tentativas de unificação da ortografia do português ao longo do século XX, desenvolvidas sobretudo pela Academia das Ciências de Lisboa em conjunto com a Academia Brasileira de Letras. Em 1945 as duas academias chegaram a acordo, numa reunião em Lisboa. Desse encontro surgiu a chamada Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945. Mas aqui, mais uma vez a parte portuguesa cometeu um pecado capital. É que conseguiu convencer a parte brasileira a adoptar os pontos de vista portugueses, nos quais predominava a perspectiva etimológica.
Assim, os brasileiros, que há muito tinham suprimido, para maior facilidade de alfabetização, as chamadas consoantes mudas ou não articuladas em palavras como "acto", "directo", "óptimo", tinham de voltar a introduzi-las na escrita. Ora isso constituía uma violência, que o Brasil não aceitou. Imagine-se como reagiriam os portugueses se agora os obrigassem a reescrever "fructo" ou "victória", com consoantes que há muito foram suprimidas! A lição que colhemos, quer de 1911, quer de 1945, é que Portugal, embora seja o berço da língua portuguesa, não é no mundo de hoje o seu único proprietário.
A verdade é que, tendo falhado as duas unificações plenas tentadas em 1945 e 1986, mandava o bom senso que se procurasse uma unificação possível, menos absoluta, mas mesmo assim suficiente, para abranger cerca de 98% do léxico da língua, e necessária, para evitar que a deriva ortográfica, com oito países lusófonos, se venha a acentuar.
Outra crítica que advém de certos intelectuais portugueses mais conservadores põe em causa a necessidade sequer de qualquer acordo ortográfico. Sustentam que a língua há-de evoluir nos diferentes países lusófonos e dar origem a outras línguas. Esquecem-se, no entanto, que hoje vivemos num mundo diferente do que existia no tempo, por exemplo, da difusão do latim pela România. Nesse tempo a escolarização era apenas para elites reduzidas, não havia meios de comunicação de massas, como a rádio, a televisão, os jornais. Ora, estes meios exercem hoje sobre a língua uma força centrípeta que leva à preservação da unidade essencial do idioma. Por outro lado, as instituições culturais e políticas dos países lusófonos têm todo o interesse em preservar a língua comum como elo de ligação entre todos e factor indiscutível da sua afirmação no mundo.
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O texto abaixo é da autoria de Pedra Filosofal e de Godi, residentes, respectivamente, em Portugal e no Brasil. Amigos, separados por um oceano, ainda assim partilham das mesmas opiniões acerca dum acordo que tem feito correr bastante tinta em ambos os países.
É nossa firme convicção que não faz sentido algum quererem uniformizar a linguagem. Temos expressões diferentes, nascidas da forma de estar, de histórias diferentes nos dois países.
Diferentes circunstâncias marcaram a variação do Português brasileiro e do Português europeu. O Português Europeu, pelo facto de as fronteiras de Portugal serem as mais antigas da Europa, contrariou uma variação mais profunda por fatores exógenos exteriores, a qual foi sobrelevada por ação de fatores internos a própria língua, sendo, por isso, considerado como uma língua quase perfeita, pois manteve-se ocupando uma área estável desde a delimitação das fronteiras lingüísticas e propriamente portuguesas desde o séc. XIII. Somente em raros pontos que a fronteira política não coincide com a fronteira linguística.
Em Portugal o esclavagismo quase que não existiu e a imigração só há pouco tempo é uma realidade. Não teve, por isso, muitas influências externas para a evolução da língua. O português europeu evoluiu “sozinho”.
Já no Brasil o português foi determinado por fatores multifacetados e, por isso mesmo, houve uma diferenciação natural. O português brasileiro teve um contato significativo de fatores exógenos: Com línguas indígenas, com línguas africanas e com línguas de imigrantes de diversas partes do mundo. No Brasil a escravatura foi uma (triste) realidade. E por mais que os senhores quisessem evitar, alguma coisa foi ficando da rica linguagem dos escravos, em forma de substrato linguistico (herança lexical e morfossintática no português brasileiro). Acresce ainda que o Brasil foi colonizado por tantos emigrantes que é quase impossível saber qual a língua que teve mais influência (para além do português).
A língua portuguesa do Brasil, variante nacional do Português europeu (de Portugal) tomou um rumo simplesmente 'diferente' com perdas casuais de funções latinas, com influência de línguas indígenas e africanas, ou seja, a comunidade brasileira que é maior que a portuguesa por ser maior mesmo já é um fator de diferenciação.
Uma das razões do acordo é que a ortografia seja uniforme. Mas se ortografia fosse impedimento, Miguel Sousa Tavares e José Saramago não seriam tão bem vendidos no Brasil como, de fato, o são. Sabe-se que os dois autores preferem que a obra seja divulgada com a ortografia do português europeu (Portugal). Em Portugal passa-se o mesmo com Jorge Amado e Paulo Coelho que editam em português brasileiro.
A língua está viva e muda de acordo com a utilização que dela se faz, não porque alguém, em algum momento, assim o decidiu na "marra". Ao longo dos anos a língua portuguesa, quer em Portugal, quer no Brasil, quer noutros países de língua oficial portuguesa, tem alterado por força do convívio natural entre as pessoas. Cremos que um dia, sem legislação, o português será ainda mais semelhante, mas apenas e só por força das circunstâncias. E que circunstâncias? É simples, há, cada vez mais, brasileiros a trabalhar em Portugal e portugueses a passar férias no Brasil. A globalização, o avanço das telecomunicações e mídia (média) serão também factores determinantes na aproximação da língua falada e, posteriormente, da língua escrita.
Todas as decisões onde se modifica o código escrito são sempre controversas e causam traumas. Legislar em cima da língua é algo que, normalmente, não funciona, por haver diferentes formações neológicas de palavras a cada uma das variantes que constituem a lingua portuguesa.
No Brasil, incrivelmente a lingua portuguesa é bastante uniforme na sua variação diatópica (variação regional) no que condiz a nomeação de conceitos novos (formação de palavras novas e designações). Existe o entendimento recíproco, apesar de haver diferenças sempre de acordo com os diversos critérios sócio-históricos que levaram a tal.
A influência norte-americana é muito grande no Brasil. Em Portugal também se nota, nos últimos anos, um acréscimo nos estrangeirismos, introduzidos pelas novas tecnologias. Consideramos, no entanto, estes empréstimos linguísticos-estrangeirismos como normais, pois que estes atingem apenas o léxico, não havendo hipóteses para a desestruturação da língua em si.
As línguas sempre criam termos novos, os chamados neologismos. Esses termos, vindos sempre dos acervos latinos e/ou de empréstimos, nominam novos termos. Então, quanto muito, deveria-se ter uma comissão conjunta entre os dois paises para verter uniformemente os termos em estrangeiro, comumente trazidos pela tecnologia. Por exemplo, uma arca frigorífica em Portugal, é freezer no Brasil.
No entanto essa uniformização seria gradual e apenas para termos técnicos. A uniformização de expressões seria quase impossível. A título de exemplo, no Brasil “veado” é homossexual quando em Portugal é um animal que podemos ver no Zoo. “Galinha” em Portugal é uma mulher tagarela. No Brasil é uma prostituta. E o mesmo problema se põe a nível regional. Por exemplo “batata” em Portugal Continental é uma batata, na Ilha da Madeira são “semilhas”. No Porto bebe-se um cimbalino, em Lisboa um café.
Qual é o acordo que pode levar a que deixem de acontecer estas diferentes interpretações da mesma frase?
A riqueza da língua portuguesa, seja ela brasileira ou europeia, está na diversidade, a unanimidade é tola e estranha.Acordo Ortográfico – duas nacionalidades, uma opinião
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por Luís Menezes Leitão | 03.02.12 |

Neste país onde tanta gente abdica das suas convicções, apenas por razões de interesse ou porque o respeitinho é muito bonito, louva-se esta atitude de Vasco Graça Moura. Quando se nomeia alguém com o seu prestígio para um cargo público espera-se que continue a defender aquilo em que acredita e não que se limite a acatar directivas exteriores, por mais disparatadas que elas sejam. O acordo ortográfico é o disparate do século e o facto de estar a ser imposto aos portugueses desta forma demonstra bem a falta de espinha que nos caracteriza como povo. Fico perplexo quando leio no Diário da República palavras como "adoção" que me lembra mais "adoçante" do que "adoptante". Querer abolir consoantes mudas, em certos casos quando nem os brasileiros as suprimiram, implica tornar a ortografia do português europeu mais brasileira do que o próprio Brasil. E já se percebeu que em África ninguém vai seguir esta medida, caindo Portugal no puro ridículo de ficar como uma ortografia que ninguém compreende e mais nenhum país lusófono adopta.
Infelizmente, no entanto, há Torquemadas que querem impor o acordo à força, mesmo que ninguém o deseje. Por isso, como as "réguadas" nas mãos de antigamente já não estão na moda, agora existem as ferramentas informáticas que conseguem o prodígio de nos obrigarem a escrever da maneira que não queremos. Vasco Graça Moura tomou a atitude correcta de mandar desligar essas ferramentas informáticas que violam a liberdade de escrita dos seus colaboradores. Mas aparecem logo pessoas com uma enorme concepção da liberdade como António José Seguro a dizer que Vasco Graça Moura não está acima da lei. Claro que não. A lei portuguesa obriga os funcionários do CCB a escrever segundo o acordo e ainda os obriga a ter nos seus computadores ferramentas informáticas para não os deixar escrever de outra maneira. Já agora: não quererá António José Seguro mandar aplicar também essas ferramentas informáticas na Casa dos Bicos para garantir que os textos de Saramago passam a ter a pontuação tradicional em vez das vírgulas que tão abundamente utilizava? Afinal de contas, a lei tem que ser igual para todos. E não aplicar o acordo ortográfico é seguramente um crime de lesa-majestade.
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O que pensam os portugueses sobre o Acordo Ortográfico
As opiniões dividem-se quanto às novas alterações previstas para a língua portuguesa

Uns contra, outros a favor, as dúvidas persistem quanto às alterações previstas para a grafia da língua portuguesa, com a aprovação do Novo Acordo Ortográfico. Os portugueses dividem-se nas opiniões acerca da possível mudança de algumas palavras portuguesas.

Foi entregue, no Parlamento, uma petição contra o Acordo Ortográfico, encontrando-se esta quarta-feira em debate algumas das alterações previstas. Entre os vários subscritores deste abaixo-assinado, constam Vasco Graça Moura, António Lobo Xavier, José Pacheco Pereira, Eduardo Lourenço, entre outros.

As alterações nas palavras tão usadas pelos portugueses ainda provocam dúvidas e alguns dissabores. Tão habituados a falarem a sua língua sempre da mesma maneira, dizem que já não se encontram capazes de aprender a falar e a escrever de uma maneira diferente.

«Vai ser difícil escrever com o novo acordo», disse Otília Mendes ao tvi24.pt, uma doméstica que considera que, com o novo Acordo Ortográfico, a língua «vai ficar um pouco abrasileirada».

Carlos Santos, bancário reformado e licenciado em Direito, concorda com a posição tomada por Vasco Graça Moura, na entrega da petição contra o novo Acordo Ortográfico.

«Vai criar muitos problemas», disse o ex-bancário ao tvi24.pt. Na sua opinião, «os estudantes de uma forma geral dão muitos erros», temendo que «esse problema se agrave».

As alterações na língua portuguesa são reprovadas segundo vários pontos de vista. Teresa Castelão, professora universitária, garante que a aprendizagem vai ser mais difícil, no que toca, por exemplo, ao facto de ler sem acentos. «Não devia haver Acordo Ortográfico nenhum, devíamos manter a língua portuguesa tal como ela está», afirmou.

A língua portuguesa «deve manter a essência do continente», defendeu a professora universitária.

Também alguns estudantes partilham desta opinião, considerando que «não devemos alterar a gramática (...) é a nossa língua», disse uma estudante universitária ao tvi24.pt.

No entanto, nem todos têm uma posição negativa quanto ao Novo Acordo Ortográfico. Também reformado, João concorda com o Acordo: «Acho que vem engrandecer a língua portuguesa.»

Não à sua aplicação, pois a língua portuguesa perde a sua essência. Sim à sua aplicação, numa tentativa de uniformizar a língua em relação a outros países, como por exemplo alguns estados-membros da CPLP, onde já está em vigor o Novo acordo Ortográfico.

 Recolha de textos feita por Mª Jesus Ramos Santos














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